O Ciclo do Milho: Semear, Sacha, Mondar...

 

Na Primavera, visto que o milho não suporta os rigores do Inverno, iniciava-se a sementeira em meados de Março e por todo o mês de Abril, o lavrador dirigia-se ao campo com a sua junta de bois, cujas campainhas tilintavam, puxando o carro que transportava o arado, a grade, as enxadas, os enganços e o cesto com a semente que ia lançar à terra.

Bois lavrando principio seculo XIX em Guimarães

 

No campo, o arado puxado pelos bois, ia fazendo regos a terra virando ceiva sobre ceiva.        

Com o solo mexido, a passarada aproveitava o repasto que a terra fresca lhe oferecia.

A seguir, o lavrador lançava a semente à terra. Depois atrelava a grade aos bois, dando início à gradagem para desfazer as ceivas e os torrões. Tornava assim a terra solta e fofa para o cereal poder germinar. E, os pardais lá continuavam a encher o papo.

 

Uma vez semeado, não tardava muito e era um regalo ver o milho a crescer, a crescer, muito verdinho e espevitado. Em Abril, Maio ou Junho começava a primeira das várias e pesadas tarefas que a produção do milho exigia – Quando o milho ainda estava miudinho mas já muito bem-nascido, por vezes debaixo de um calor tórrido, homens mulheres e crianças dirigiam-se para as terras descalços, chapéu na cabeça e sacho, sachola ou  enxada às costas. Sachavam e mondavam todos os campos onde havia milho, de lés a lés, retirando as ervas daninhas e as mondas para que o milho crescesse melhor e dispusesse de toda a riqueza e força do terreno. Antes porém um ou dois homens mais experientes iam à frente com o intuito de desbastar o milho, isto é, de arrancar os pés aparentemente inúteis bem como os das zonas em que estavam mais bastos para que os outros crescessem mais à vontade. Era a sacha do milho, no decurso da qual todos cantavam quadras soltas, ou à desgarrada, ou ainda conversavam animadamente em termos bregeiros que provocavam risos e gargalhadas…

Sachado do milho no principio do seculo XX 

 

Era um trabalho difícil, uma espécie de arte que só os mais velhos e experientes sabiam e podiam fazer. Uma vez sachado, mondado e desbastado, o milho crescia a olhos vistos e nos dias seguintes os campos transformavam-se em enormes tapetes de folhas verdes, os feijoeiros, que embora semeados em pequena quantidade, começavam já a trepar pelas estacas de cana que eram espetadas aqui e além ou pelos próprios milheirais.

 

Algum tempo depois, bastava apenas passar novamente toda a terra a terra com o sacho ou com o lado de uma enxada e ajeitá-la ainda mais para junto de cada pé de milho para que este, agora já bem mais alto e esguio, ficasse bem “calçado”

À medida que o tempo vai correndo, o pé de milho vai crescendo e na ponta aparece feito um penacho que se chama pendão ou coroa, é cortado e dado como alimento ao gado.

Cada pé de milho nasce com duas ou três espigas, conforme a terra ou adubação das mesmas.

Cada espiga tem na ponta uns fiapos que se chamam bigode ou barba. O miolo é o casulo onde estão implantados os grãos de milho e cobrindo toda esta espiga uma cobertura chamada folhelho.      

Desfolhada Minhota (Viana do Castelo)

 

A ” espigas de leite” era cortadas antes da maturação, e assada nas brasas temperadas com sal.

Nos meses de agosto e setembro é cortado o milho e trazido para a casa do lavrador, as espigas eram apanhadas para cestas, carregadas em carros de bois. Ai é despejado num recinto apropriado, ao ar livre, chamado eira e ai mesmo é feita a DESFOLHADA.

 

As espigas de milho são ficam alguns dias a secar. Parte delas são guardadas em espigueiros ou caniços para serem usados pelo ano fora, as restantes espigas são debulhadas com malhos, por rapazes ou moças, o que ocasiona outra cena típica do minho: a MALHADA.

Malhada do Milho em 1908 no Minho

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