Chapéus de Palha

 

"DA PALHA AO CHAPÉU" 

 

As mulheres faziam tranças de palha, enquanto caminhavam de um lugar para o outro, aproveitando para fazer recados ou até simplesmente conversar com as vizinhas ou então nos serões das suas casas, enquanto os seus dedos ágeis entrelaçavam as palheiras, davam azo a grandes conversas, cantorias e gargalhadas.

O objectivo destes chapéus, era simplesmente proteger do sol a cara e a cabeça das pessoas que andavam na lida do campo.

Em outros tempos, estes chapéus de palha eram muito úteis tanto para os lavradores que tinham que trabalhar no campo desde o nascer ao pôr-do-sol, como para nós crianças pois tínhamos que ir para a escola, e o caminho era longo, e o sol era muito intenso. 

“Esta palha semeia-se pelos “Santos” e no mês de Maio tem que ser cortada mas para isso temos que ter em atenção a transparência da espiga, caso a espiga já esteja opaca, já não vale a pena cortar pois a palha já está dura, já não dá para fazer a trança deixa-se então para centeio.

Quando se chega ao mês de Maio, corta-se a palha ferrã, e põe-se à mão cheia a secar estendida no campo ou então em medas, nos alpendres, ou nos cobertos enfim, onde der mais jeito a quem a colhe; a seguir, põe-se a corar da seguinte forma: A palha é estendida no campo e com o orvalho da noite vai corar durante duas a três noites dependendo do orvalho. As melhores noites para se processar esta cora, são as noites de S. João por causa das orvalhadas da época. Deve-se ter cuidado de colocar a palha no campo quando estiver o céu limpo, e de preferência na ausência de vento, pois quando corre vento, não orvalha o que vai prejudicar a cora da palha, esta pode ficar escura e o objectivo é que fique branquinha. Há quem utilize também o “enxofre” para a branquear.

Depois de cortada é posta às faixas ou aos molhos, é demolhada, para ficar maleável para mais facilmente ser trabalhada.

Uma trança para ser completa tem que ter “12 braças” que depois de feitas têm que ser tosquiadas, isto é, tirar-lhe os “tocos” de palha para assim seguirem limpas para as chapeleiras, que posteriormente, irão confeccionar os chapéus”.

Antigamente os chapéus eram cosidos à mão, pois não havia máquinas, uma trabalho que era difícil, deixando-lhe os dedos muito doridos, além dos chapéus não ficarem nada perfeitos.

Mais tarde apareceram as máquinas “Singer e as Oliva” o que ajudou muito para além de ser mais fácil a confecção dos chapéus, também a obra ficava mais perfeita e fazia-se mais quantidade, dando assim mais rendimento”.

 Aprendeu esta arte com a sua mãe e a sua mãe, com a sua avó, o que quer dizer que este artesanato já vem de outras gerações, vai passando de pais para filhos…

 

 

FAFE FOI O MAIOR PRODUTOR DE CHAPÉUS DE PALHA DO PAÍS

 

Nos anos 50 do século passado a trança e a confecção de chapéus de palha correspondiam a uma das mais características indústrias do concelho rural.

Um pouco por toda a região de Fafe muitas mulheres e até crianças, ocupavam-se em fazer trança com colmo de centeio molhado que as artífices colocavam, em pequenos molhos, sob o braço esquerdo, que suspendia também a trança à medida que crescia.

Fazia-se trança a todas as horas, o lavor apenas era suspenso nas horas das refeições ou na necessidade de participar em outra tarefa de lavoura. Antes de o sino tocar para a missa vespertina, já elas moldavam as finas “palheiras” com uma destreza manual alucinante. Seguiam para a Igreja sempre de mãos ocupadas, interrompiam durante a missa e logo na saída retomavam este trabalho muitas vezes ambulante, durante o dia, à noite organizavam-se as «fazidas de trança», serões exclusivamente destinados a este serviço. Existiam várias técnicas de entrançar a palha: francelins, tocas, peixeiras, redilhas e escumilhas.

O produto finalizado era vendido às braças (medida da trança correspondente á distancia entre os punhos de um individuo de braços abertos).

O maior produtor de chapéus de palha, naquela época, era a freguesia de Travassós. Vinhós e Golães foram também lugares importantes nesta indústria.

A trança era cosida à mão ou em máquinas dando forma aos chapéus de palha, de vários tipos e tamanhos que as aldeãs carregavam em grandes pilhas para negociar em feiras.

Fafe era na altura o maior produtor de chapéus de palha fornecendo os quatro cantos do país, fazendo também exportações para vários outros países.

Esta é ainda uma tradição que se mantém em diversas freguesias do concelho, perdeu a importância de outrora. Transformou-se em artesanato. Contudo ainda há quem faça trança e confeccione chapéus de palha, é sempre um complemento para os cada vez mais magros orçamentos familiares. Não será de estranhar que esta actividade venha a crescer nos próximos tempos, no concelho de Fafe.

Algumas das tradições quase perdidas poderão ser retomadas, não para recriação mas como imperiosa necessidade dos que ainda não abandonaram o meio rural.

Fonte: Pereira, Maria Palmira da Silva, Fafe, Contribuição para o Estudo da Linguagem, Etnografia e Folclore do Concelho, Coimbra 1992.


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